A Secretaria Municipal de Educação de São Miguel do Guamá (SEMED), através das escolas da rede municipal de ensino, realizou diversas atividades para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado anualmente em 20 de novembro. Alunos de escolas municipais da cidade e da zona rural participaram de rodas de conversas com professores e também membros de comunidades remanescentes quilombolas do município, além de oficinas de artesanato e encenação de peças teatrais.
De acordo com a secretária municipal de Educação, Cristiana Taveira, assuntos como racismo devem ser discutidos dentro de sala de aula. “Falamos sobre o racismo no Brasil, sobre respeito, equidade e valorização do ser humano enquanto pessoa, independente de sua etnia […] A gente começa este trabalho desde as criancinhas, na educação básica, ensinando o respeito a eles de forma didática e isso é muito importante de ser trabalhado em sala de aula, com rodas de conversas e outras atividades”, frisou Cristiana, que também é docente.
O professor de História, pertencente à educação básica da SEMED, Daniel Xavier da Fonseca, que também é mestrando em Estudos Antrópicos na Amazônia e pesquisador no tema, conta que na década de 1930, no Pará, práticas como a capoeira, boi-bumbá, e os cultos de matrizes africanas foram proibidos por determinação policial, pois considerava-se que elas provocavam desordem pública e essa ideia deixou um triste legado na sociedade atual. “O racismo estrutural, é o termo usado para reforçar o fato de que existem sociedades estruturadas de modo a privilegiar um grupo da sociedade, em detrimento disso, discriminar outras e frequentemente colocar a cultura negra como algo negativo, ruim, de mau gosto. As s escolas têm o importante papel de desconstruir essa ideia”, explica Daniel.
Dia da Consciência Negra. “Somos frutos da resistência”
Dia 20 de novembro faz referência ao dia da Consciência Negra (criada em 1971 e instituída oficialmente pela Lei nº 12.519 de 10 de Novembro de 2011). A data foi escolhida por ser a data da morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares, e o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial escolheu Zumbi como símbolo de luta e resistência dos negros escravizados e ainda como da luta por direitos reivindicados pelos povos tradicionais.
O município de São Miguel do Guamá tem forte influência da raça negra e atualmente possui cinco comunidades remanescentes quilombolas reconhecidas. São elas: Santa Rita de Barreiras, Poeirinha, Fátima do Crauateua, Santa Maria do Muraiteua e Canta Galo. As vilas fazem parte da história do município, contribuindo fortemente para a criação de São Miguel do Guamá.
“Sou de São Miguel do Guamá, negro, da periferia, estudei em escolas públicas e nunca tive um contato grande com temas como igualdade racial dentro de sala de aula quando criança. Apenas quando ingressei na universidade eu realmente conheci minha história, os meus direitos e compreendi que somos frutos da resistência. Se na atenção básica eu tivesse tido esse conhecimento, o meu reconhecimento e autoafirmação como pessoa negra teria sido mais fácil”. A frase do professor Daniel reforça ainda mais a importância que a discussão desses temas representam na vida dos alunos. “Hoje as salas de aula da rede pública municipal aqui da cidade mudaram, temos a possibilidade de ensinar sobre a igualdade de direitos aos nossos alunos desde crianças e isso é muito importante, pois a chave para a mudança da sociedade está no conhecimento”, concluiu.
Galeria de fotos:
(Fotos: Arquivo SEMED)